segunda-feira, dezembro 25, 2006

Três pontos

Conheci uma figura bastante singular esta semana.

Estava voltando para casa quando resolvi parar para comer alguma coisa. Sentei em uma lanchonete para comprar um quibe quando de repente:

– Quer uma cerveja? É que veio muita gelada e está empedrando. Se não tomar logo, o gás vai escapar e eu vou perder o meu dinheiro.

Na verdade, não foi tão “rebuscado” dessa maneira, porém bem elaborado. Aceitei. Bebi uma cerveja com o novo amigo. A cerveja aproxima os homens e dessa vez não foi diferente. Conversamos e descobri um pouco mais sobre as coisas. Ele tinha vinte e seis anos e três filhos. Era negro e estava desempregado. Chorou – literalmente – suas desgraças pra mim por quase duas horas.

Essas coisas me atingem de uma maneira estranha. Nunca fui muito de me importar com sofrimento alheio, mas aquilo de alguma maneira me sensibilizou demais. Acho que o fato de uma pessoa que nunca tinha visto na vida começar a falar e chorar na minha frente mexeu um pouco comigo. Pensei bastante e acabei lembrando de uma velha amiga de faculdade. Ela uma vez – depois de várias discussões sobre teoria contra realidade – me falou que existem verdades que não se encontram no plano real das idéias platônicas. Dou o braço a torcer; estava certa. Aquilo foi uma aula que jamais tive.

Desde que entrei na faculdade, aprendo muito mais com meus colegas e pessoas de fora, mas ligadas à área, do que com meus professores. Toco muito melhor hoje em dia depois de quase dois anos de bandinha de rock do que em minhas distantes aulas de violão. Ela estava certa, mas não completamente!

Essa não foi a única história importante da semana. Nosso neto de Senador também levou uma facada. Isso parece bastante agressivo, mas... A agressora falou que foi devido ao aumento de noventa e um por cento dos salários decido por eles mesmos. Fico imaginando quanto seria o meu salário se eu pudesse decidir quanto ganhar...

E repente penso que algo está prestes a mudar. Esse foi um ano estranho. Uma senhora tocou fogo em outra pois não recebeu o INSS, uma outra deu uma facada em um deputado e mais outras coisas. Ainda é pouco, eu sei, mas bastante diferente de tudo antes. Parece que os expectadores estão querendo interagir com a peça.

Nunca fui partidário a nada, nenhum partido. Tão pouco perdi meu tempo com besteiras sobre voto nulo. A vida parece ser um grande clichê, ainda maior do que esta frase. Não sei a que conclusão chegar, mas marquei de tomar mais cerveja com o rapaz do primeiro parágrafo!

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Apenas algumas palavras

Nunca pensei em ser artista plástico. Confesso que até via este ofício com um pouco de despeito. Na verdade, acho que ainda vejo desta maneira, mas menos do que antes. Meu primeiro contato com artes visuais veio através das histórias em quadrinhos. Dessa maneira comecei copiando desenhos. Nunca tive muita dúvida do que queria fazer na vida: sempre gostei de desenhar e hoje acho algo vital, quase como respirar.

Pouco me agrada arte contemporânea e principalmente, não consigo ter nenhum apreço por arte conceitual. Acho algo chato e inútil; deixa o lado artesão do artista para trás. Nunca vi uma instalação que me agradasse e acho que quase todas me remetem a lixo. Sempre achei essa estória de que o artista é um expoente e um sensível da sociedade como uma grande picaretagem. Recentemente vi alguém quebrando uma escultura até bem bonita com o argumento de que aquilo era uma representação de como a sociedade era injusta e de como ele se sentia frustrado com tudo aquilo, sobre suas repressões sexuais e blá, blá, blá. Não tenho a menor paciência para isso. Acho simplesmente bobo.

Esse é apenas um dos exemplos. Discordo completamente de que basta uma idéia na cabeça e uma câmera em mãos para fazer um filme – talvez por isso os filmes de Glauber Rocha sejam tão legais... Também não acho que técnica deva ser a tônica de qualquer obra, mas acho fundamental em seu devido grau. Não gosto de Duchamp e nenhum dos seus “filhos”. Quando era pequeno fui em uma bienal de artes em São Paulo e fiquei muito frustrado. Acho que foi quando eu comecei a pensar que não queria ser artista, apenas desenhista.

Confesso que já mudei um pouco minha maneira de ver algumas coisas desde que entrei na faculdade. Acho que muito do que eu aprendo é importante. Com certeza sei muito mais do que antes, mas ainda continuo achando arte conceitual uma perda de tempo. Talvez o errado seja eu. Parei no tempo! Quase todos os movimentos que gosto, já foram encerrados a mais de cem anos.

Gosto da antiguidade clássica, gosto bastante do movimento gótico e suas figuras alongadas. Acho que a coisa começa a ficar legal com a chegada do renascimento. DaVinci era um grande sujeito e um bom pintor. Um pouco monocromático... Sou um grande fã dele, mas acho que isso quase todo mundo é. Talvez ele seja uma das grandes unanimidades da arte. Prefiro Michelangelo!

Durante a renascença, movimento não era algo muito comum nas obras. Existem algumas tentativas como em Botticelli, mas pouca coisa. Apesar de toda a sua indiscutível genialidade, Davinci acabou sendo um grande nome do renascimento, enquanto Michelangelo foi o pai do movimento a seguir, o barroco.

O grande momento chega com o romantismo. Acho essa uma das melhores épocas de toda a humanidade. Ótimos escritores, excelente pintores e compositores. Depois disso, houveram poucos que me agradaram. Munch é um exemplo.

Continuo lendo histórias em quadrinhos e sou muito feliz com elas. Gosto do experimentalismo de alguns dos seus desenhistas, a maior parte desses formados em artes plásticas... Aprendo um pouco mais a cada dia. Talvez eu mude tudo isso em uma semana!

quinta-feira, novembro 09, 2006

Sua falta preencheu o mundo

...E todos foderam a minha princesa. Era a verdade nas imagens em preto e branco. Demorei a entender as cores e em como elas poderiam dar sentido. Entendendo-as, descobri como a sua falta poderia ser genial. Não existe um meio termo para isso: ou colorido, ou não.

Estes foram os anos! A via apenas à distância. Achava que era bonito o meu bem querer. Pessoas a queriam mais que aquilo – várias conseguiram. Eu esperava que em suas noites, ela fosse feliz, mesmo sabendo que não era em mim que ela guardava seus pensamentos. Nunca me masturbei pensando nela. Sua vagina era santa pra mim.

Muitos a comeram, eu não. Sempre estive lá. Parado, mesmo sem ela saber meu nome todo. Fui arruinado ainda no colegial. Poderia até ter chances... Estas se foram. A vi do outro lado da rua com um outro rapaz – braços grandes e peito largo. Um tom azul, diferente do verde. Faltou amarelo...

Um dia a encontrei depois de uma peça de teatro. Perguntei como ela estava. Ela me devolveu um sorriso amarelo e sem vida e me perguntou com os olhos: quem é você. Pensei durante alguns segundos. Respondi: Faça-me o favor de ir se foder. Você sabe, o alcoolismo sempre bate à nossa porta...

domingo, outubro 22, 2006

First breath after coma

Esperei demais e a tristeza passou. A dor ficou velha e nada mais faz tanto sentido. Eu tento, bem que tento. Acho que não pode ser deixado no passado – ser registrado em um eterno presente. A abracei sem forças, pois nunca achei que precisaria dar um abraço como aqueles. Esqueci disso: todos partem! Já deveria saber disso – eu já parti, e partido, aqui fiquei. Fiquei triste com mais uma despedida.

terça-feira, outubro 03, 2006

Lições e morais

Era bonita e cheia de sonhos na sacola. Fez faculdade de comunicação e após formar, foi trabalhar em um supermercado como gerente de qualquer coisa que não me recordo exatamente o que era... Lá ficou por três longos anos: cansou! Decidiu que queria mudar de vida e tentar tudo desde o começo novamente – voltar à primeira frase. Mudou-se para uma grande capital e lá, com a experiência que tinha, foi trabalhar em um supermercado como gerente de qualquer coisa que não me recordo exatamente o que era...

domingo, outubro 01, 2006

Moto contínuo

Chegou em casa depois de passar muito tempo esbravejando no trânsito das seis. Brigou no trabalho, e até o dinheiro era insuficiente para uma cerveja. Subiu rápido as escadas e entrou ainda suado no apartamento. Foi à geladeira procurando algo pra beber ou comer: foi uma busca infrutífera...

Sentou no velho sofá – abaixo de uma foto desbotada na parede – da sala e ligou a televisão. A luz azul contrastou com a pintura cinza. Foi atacado por todas as informações do noticiário. Cansado, procurou uma revista próxima à mesa e começou a ler. Riu sozinho...

Depois do momento de ócio, decidiu descer um pouco pra jogar seu tempo fora com a contemplação da noite. Não conseguia ver o céu, a lua ou as estrelas: era tudo de um cinza único, uma cortina de fumaça escondendo qualquer esperança que houvesse. Entendeu que ainda assim existia beleza e poesia naquela feiúra lúgubre. Acendeu um cigarro para colaborar com o teto gasoso. Deu tragadas fortes até se acostumar com a quentura nos pulmões.

Andou com o olhar perdido em todo tipo de fumaça que vinha da cidade. Fez pequenos desenhos no ar com suas baforadas... Seus pensamentos estavam perdidos em algum espaço. Pensou em voltar para casa, mas não sabia exatamente onde era este lugar. Tinha uma sensação estranha de nunca ter estado em casa, mas por algum motivo, sabia que parado, ali no meio das praças e ruas, estava muito mais próximo do que confinado em um apartamento. Parou para olhar a beleza do asfalto e o toque do concreto. Sentiu todo o poder da natureza humana sobrepujando a força de Deus. Era homem, e disso teve certeza.

– Estava sumido, nunca mais tinha te visto...

– Engraçado, vejo-me todos os dias – riu ligeiramente com o canto da boca.

– Nunca mais me procurou...

– Acho que o mesmo serve também a você. Cansei um pouco de tudo isso. Se eu não te procuro, tu não me procuras, é isso? Mesmo que queiras, não me procuras? Tens tanto medo assim?

– Você está mudado, isso sim!

– É o mínimo que se espera... Não quero mais ouvir reclamações deste tipo; como já disse: cansei! De repente as pessoas se repetem e isso perde um pouco da graça. Não consigo mais rir da mesma piada. Talvez seja apenas isso, ou tudo isso... O problema talvez seja você que não mude, e já não gosto mais que continue sendo “você mesmo”!

– Não é isso... Esqueça, você não entendeu...

– Você está certo, eu realmente não entendo.

Novamente sozinho sob seu céu monocromático. Riu da partida do outro, e tudo o que falara era verdade. Deus o livrasse; ele era homem, ele criou Deus! Já não era mais nada, não tinha mais um criador. Perguntou-se de onde teria vindo aquele céu, e olhando novamente para a cidade e suas fumaças, teve sua resposta. Caçou nos bolsos um cigarro e descobriu que era o último; sabia que teria problemas para dormir.

Olhou o relógio e viu como era tarde. Tinha que voltar para o apartamento – nunca voltaria à casa – e continuar o que tinha deixado por fazer. Sentar-se novamente no mesmo sofá e esperar o fim da noite e suas luzes para continuar a mesma rotina que tanto maldizia, mas a qual não saberia viver sem.

Correu os bolsos novamente... Talvez desse para terminar o dia com uma cerveja. Quem sabe até pintasse o céu com mais um pouco de cinza.

quarta-feira, setembro 27, 2006

Pretérito composto e imperfeito

Depois de longos anos de convivência, o amor esfriou. Ainda estava lá, guardado em alguma gaveta distante – mas frio. O Tempo, ainda sendo uma grande barreira, não foi o suficiente: apenas a distância dos oceanos pode reaproximar os dois. Apenas e-mail’s e mensagens em telas de quinze e dezessete polegadas foram o suficiente para reacender alguma coisa. Apenas os países em diferentes continentes puderam uni-los novamente, e quem sabe, tudo fosse ser diferente!

terça-feira, setembro 26, 2006

Maior que tudo

...E tinha um sorriso nos lábios, típico de quem esconde lágrimas. Falou besteiras como quem afasta lembranças e todos riram com – por – ele. Já era tarde e a festa ha muito tempo terminara. Os convidados saiam ruidosos deixando toda a sujeira para trás. Coube a ele a tarefa da limpeza...

Sobrou no temido e esperado silêncio. Encarou as sobras e não soube o que fazer. Sentou e substituiu o riso pelo choro. Enterrou a cabeça nas mãos e uniu os joelhos feito criança. Olhando as fotos, sentiu a pontada amarga e azul no peito. Soube que no passado, tudo fora melhor; apenas por ser passado. As coisas tinham uma nova cor à distância.

Viu como o amor era mais bonito se não podia ser concretizado, como a dor era mais poética se não podia ser apaziguada. A separação imprimia uma perfeição estranha na vida. Lembrou dos seus primeiros anos e viu como tinham sido melhores, os amigos, as festas e tudo mais. Lembrou que já foi mais esperto, que já leu mais, das cartas de amor para a garota que ele tanto queira reencontrar – mas no fundo sabia que se a encontrasse, perderia toda a paixão.

O ato de conquistar era mais prazeroso que a própria recompensa. Ergueu a cabeça e soube nessa hora que tudo só era bom, pois tinha sido fantasiado. Que a saudade só era boa por ser falsa.

E por isso voltou a chorar antes de arrumar a casa...

terça-feira, setembro 05, 2006

Ossos do ofício

Tenho dois avôs, um é médico.

Estava esta semana conversando em seu apartamento lendo um dos seus muitos textos, quando vi algo interessante. Claro que todos sempre vão puxar sardinha para o seu lado, e com ele não poderia ser diferente. Falava em determinado trecho do texto que a sua profissão – médico – era a mais sublime, dramática e excelsa dentre todas. Pensei a respeito e concordo com o romantismo e a poesia da coisa: Cuidar de vidas humanas!

Por mais que o tempo tenha passado, direito, medicina e engenharia ainda têm seu lugar de destaque na cadeia social – a disciplina de saúde é o prêmio máximo! Tenho minhas dúvidas se todos os estudantes de tal curso realmente o fizeram pelo altruísmo da salvação e manutenção deste bem maior. Até então, creio que o mesmo pode acontecer em todos os cursos de uma faculdade, e poucos são os que se mantêm nas suas devidas profissões por verdadeiramente acreditarem nela.

Minha profissão é antiga. Sim senhor, muito mais antiga do que se imagina.

Nos distantes dias da era paleolítica, surge o primeiro artesão. Sim, o artista! Dentre os caçadores do bando, os mais dotados são escolhidos para exercer este novo ofício. Nesta nova ordem social onde o antes caçador, agora artista, deixa de tirar da terra e dos animais o seu sustento, mostra seu destaque na tribo. Existe uma hierarquia na qual este artista é sustentado pelos demais por possuir este novo cargo. O dom da representação gráfica é interpretado como magia, e da magia vem a arte.

Antes caçador, agora artista, ganha uma nova face: sacerdote, xamã! O xamã surge como um ponto de equilíbrio para esta nova crença. Envocando espíritos, entoando ritos, age também como curandeiro, sem perder suas funções de artista. Segundo José Olympio: “Todo o processo de se tornar e agir como xamã é essencialmente um processo de criação artística”.

Nunca estudei a origem da prostituição, mas garanto que se o artista não for o profissional mais velho deste planeta, pelo menos muito próximo disso ele estará. Claro que não é a sua idade que torna a arte a mais bela dentre as belas, caso fosse, Dercy Gonçalves seria a mulher mais bonita deste país.

A diferença fundamental entre a arte e os outros ofícios é que por princípio, a arte procura à beleza. Esta idéia era muito bem trabalhada pelos gregos com o seu conceito de kalokagathia (ser belo e bom). A pintura e escultura, segundo Sócrates, ficava entre o plano real e o sensível, pois o artista, buscando o belo, impunha alma e vida à sua obra. Para Platão, a música, poesia, literatura e história eram algo que provinha da inspiração divina. Tudo que é belo provêm da arte para Luigi Pareyson; o belo é o equilíbrio.

Fizeram crer que a arte é algo supérfluo, e que o artista é apenas alguém estranho e aéreo no mundo. Ledo engano! A arte impulsionou o mundo. Foram os antigos xamãs, foi a razão do povo helênico, foi a expressão contra a guerra espanhola, foi a revolução de vinte e dois. Quando algo não agrada uma população, rapidamente surgem filmes, livros e músicas de protesto. Isto não é arte? Sim, a arte é funcional e é vital ao ser humano. Ela forma opiniões, forma identidade. Conhecemos a França por seus quadros e seus famosos museus, a Itália pelo seu Coliseu e o Brasil por sua música. Tudo é expressão e por conseguinte, arte. Até mesmo meu avô, para falar da sua profissão de médico utilizou-se dos recursos da prosa e da poesia para assim embelezar sua paixão.

Recorro a arte, sendo ela plástica ou não, para qualquer objetivo que queria. A arte sim é sublime, dramática e excelsa – segundo palavras do meu avô. Algo que objetiva o belo não poderia ser diferente. A arte objetiva o belo, o belo provém da arte. O artista é essa pequena peça que amalgama as emoções e as transmitem aos outros. Até hoje me emociono sentindo paixões que nunca tive nas músicas de Chico Buarque ou nas figuras oníricas de Dave McKean; ambos, artistas!

sábado, agosto 19, 2006

Os meninos perdidos

Sempre me emociono quando vejo algo relacionado à Peter Pan. Um dos grandes momentos, em meu ponto de vista, seria após Peter deixar Wendy de volta a Londres, e naquele momento ela perceber que a sua infância foi-se embora. Acho que talvez seja exatamente isso. Peter é a nossa própria infância. Um garoto de quatorze anos que nunca passará dessa idade – e para que me conhece, sabe da minha preferência por idades pares, ou anos impares, o que não altera nada.

Peter tem um pouco de tudo que gostamos: é criança, divertido, esperto, brincalhão, amoroso, egoísta em seus momentos e pode voar pelos céus. Vive em um mundo de faz-de-conta batizado com o maravilhoso nome de Terra do Nunca! Passa seus dias em aventuras com piratas, índios, sereias e fadas. E eu acredito em fados, sim, acredito!

Com certeza o que mais me emociona é sempre a sua despedida. Seja no primeiro longa animado da Disney, na versão cinematográfica de Spielberg, em sua última incursão em telas grandes como um garoto louro e bonito, ou mesmo com uma história sobre o próprio J. M. Barrie. Sempre a sua despedida é o mais difícil de encarar. Eu nunca gostaria de deixar de ser criança.

Na verdade, essa vontade de ser jovem para sempre se estende a outros personagens ou mitos. Gosto bastante de histórias de Vampiros, mesmo com o seu lado mórbido. Desde meus sete anos de idade, fico impressionado com o filme Highlander, e assim por diante.

Ser eternamente jovem, ou mesmo se manter jovem é algo que espero. Engraçado, mas grande parte dos meus amigos é mais velha do que eu. Recentemente conversando com um deles, ele falou que não gosta dos “adultos” da sua idade. Pode parecer bem infantil e imaturo da minha parte, mas acho isso algo louvável.

Uma das pessoas que mais admiro é minha mãe. Sei que não sou a única pessoa a admirar mãe por esses lados do universo, mas tenho motivos bem claros para isso. Fico impressionado com a sua vitalidade. Ela luta pelos mesmos sonhos que tinha desde a sua adolescência, os mesmos ideais até hoje. Sempre o mesmo sorriso, sempre a mesma vontade. Não sei se continuarei assim, mas espero um dia ser como ela.

Vejo muitos dos seus contemporâneos com vidas totalmente diferentes do que eram. Sim, a vida nem sempre pode ser controlada como queremos – o que não quer dizer que sejamos vítima dela –, mas não é apenas disso que falo. Pessoas que lutaram por algo um dia, que fizeram disso a razão e a coisa mais bonita da sua vida, de repente dizem que foi apenas algo da idade, que eram imaturos, delírios juvenis...

Uma vez, em uma entrevista que fiz a um desenhista de tiras aqui da minha cidade, perguntei se quadrinhos era coisa de criança; ele disse que sim. Geralmente é na infância que se desperta o interesse por certas coisas, mas não quer dizer que isso não fique gravado em algum lugar distante da nossa mente. Quando mais novo, sempre gostei de chiclete; gostava de brincar com meus primos. Quer dizer que apenas por envelhecer, vou deixar essas coisas para trás? Vai dizer que sorvete de baunilha é infantil?

Vejo os “jovens revolucionários” da década de sessenta e muitos deles apenas se sentam nisso tudo. Essa é o mérito da minha mãe, até hoje lutar pelas mesmas coisas. Não do mesmo jeito, o que já seria burrice. Gosto das mesmas coisas que gostava quando era criança, mas não do mesmo jeito. A idade acrescenta, e não substitui.

Minha mãe é para sempre jovem, para sempre criança, assim como eu espero ser um dia, assim como Peter Pan me ensinou a ser. Concordo que um dia seremos adultos, mesmo que o tempo passe de uma maneira diferente para mim, mas ainda adulto, velho, ou que quer que seja, Espero nunca deixar de ser criança. Quero para sempre os meus quatorze, dezesseis anos comigo. Minha coleção de gibi, meus bonecos, meus desenhos e meus filmes de kung fu.

quarta-feira, agosto 16, 2006

Uma tarde olhando à parede

Após meses na internet é que observo como sou relaxado. Não tenho nenhuma periodicidade no que escrevo e nem mesmo um tema definido. Da primeira vez que me cadastrei, imaginei que seria diferente: escreveria com fúria tudo o que pensava. Escreveria reflexões simples, curtas e sem pretensão. Não foi assim que aconteceu.

Agora encaro a grande lacuna entre os textos. Escrever não é o que sei fazer melhor, mas me agrada. Mesmo não sendo bem feito – e sabendo disso – ainda assim escrevo. Acho fácil! Sou um pretenso desenhista, mas desenhar dá trabalho: escrever é apenas registrar o que penso no decorrer do meu dia.

Quando mais novo, achava que escrevia bem. Tinha orgulho de mostrar meus textos para as pessoas apenas para ouvir elogios. Acreditei que seria escritor – algo a mais no meu maravilhoso currículo imaginário. Uma colega me disse que não. Fiquei triste em ver meus problemas literários, e ela realmente era boa em me fazer enxergar certas coisas, mas acabei me conformando. As vezes ainda tenho um ímpeto para cair nisso tudo.

Em alguns dias, fico pensando muito sobre não escrever tão bem quanto gostaria. Na verdade, nunca farei nada tão bem feito quanto eu gostaria, mas em algumas coisas estou bem perto disso. Talvez o fato de não escrever bem me incomode mais, pois queria ser roteirista. Também já tentei ser músico, mas isso é outra estória...

É tarde, tenho aula no outro dia e assim tudo continua. Depois dos vinte anos, e graças a algumas pessoas queridas, vi que ninguém é especial. Sou apenas mais um sujeito na superfície indo toda manhã – quando acordo – para a faculdade. Hoje eu me senti menos pretensioso e acabei escrevendo sobre nada em específico, deixando ainda mais insosso tudo isso. Vou dormir e nem preciso apagar as luzes, não tem ninguém aqui mesmo. Talvez eu acorde em um dia melhor.

sábado, agosto 05, 2006

SAMUELIUS

Foi nos idos do distante ano de dois mil e cinco, logo após o inverno de julho, que Hélio Samuel apareceu. Era meu primeiro dia no curso noturno, ainda sem amigos ou conhecidos. Sentei-me ao fundo e esperei assim descobrir um pouco mais das pessoas. Eram pessoas – acho que nem todas... Hélio sentou-se calmo, ao fundo, do lado direito de quem entra. Nos primeiros dias, observei bastante aquela grande figura com rosto calmo que sentava sempre no mesmo lugar. Com o tempo, trocamos palavras e essas formalidades que os colegas fazem sem ter motivos...

Hélio foi a primavera depois do inverno! Como personagens de contos infantis que nossas mães lêem quando somos pequenos e que sempre gostamos de lembrar com carinho. Um pequeno príncipe que vem com o cometa e explica a vida às pessoas adultas. Hélio sabia que ser criança não tinha nada de demérito. Mesmo deitado no chão do apartamento e olhando para o teto e o concreto, conseguimos ver estrelas.

Descobri com o tempo, que ele tinha um mundo paralelo: muito mais divertido que este aqui. Conheci muitos dos habitantes deste mundo de pescadores, coronéis e pessoas simples e humildes vindas do campo. Era impressionante como o seu mundo era real, mesmo aqui fora. Hélio não precisava olhar para o céu, ele mesmo o criava.

Chamei-o de amigo. As vezes penso como as palavras são pouco para descrever as coisas; como resumir algo tão grande em apenas quatro letras – amor! Sábia a música: “amar é quase uma dor”. Com certeza era a palavra mais forte – ainda que não o suficiente – que eu poderia usar com ele: amigo! Sim, não poderia ser outra coisa. Não somos conhecidos de infância, não temos laços de família, não temos nada; somos apenas e acima de tudo, amigos!

Hélio é uma primavera duradoura e bonita. Gosto das flores e dos sorrisos. Espero que o outono não chegue para que as folhas caiam e ele venha a se despedir. Se Hélio – a grande criança, e a mais bonita – se for com um sorriso nos lábios, e eu vou sempre esperar que ele volte, depois do inverno, com os braços abertos e com lágrimas nos olhos...

sexta-feira, julho 21, 2006

Por que precisamos do Superman

Em meados de 1938, o homem pôde voar. Os heróis ascendiam do ordinário ao patamar de super! Pela primeira vez, soubemos quem era o último filho de Krypton – e sim, ele estava do nosso lado. Vindo do seu distante e extinto planeta, este semideus veio para lutar pela justiça, verdade e soprar esperança em nossos corações. Os Estados Unidos da América ainda se erguia do golpe de 1929. Fora preciso ícones que impulsionassem o seu povo e representassem seus ideais. O Superman alçou seu vôo em boa hora.

Na década de trinta, as Histórias em Quadrinhos possuíam um toque inocente e infantil. Hoje, três quartos de século depois, as histórias adultas e anti-heróis amorais tomam conta das editoras. Com a busca de aproximar o mundo fictício da realidade, problemas e comportamentos diários foram implantados à fantasia. Agora os leitores poderiam se identificar mais facilmente com os personagens.

Realmente, após uma olhadela pela janela ou uma lida de jornal, torna-se bastante complicado crer nas qualidades do Kryptoniáno do primeiro parágrafo. Kal-el – seu verdadeiro nome – é um Cândido atual de Voltaire, o próprio bom selvagem de Rousseau: inocente, ingênuo e puro; possuidor de um altruísmo bíblico. Sim, todos os heróis – e não os anti – são altruístas. Heróis são as pessoas que gostaríamos de ser, que gostaríamos que lutassem por nós. O porém deste super-herói em específico, é que ele é bom, e isso basta. Bom de uma maneira quase ridícula.

A sua bondade chega a cegueira. Ele é pueril beirando o tolo em seus esforços; mesmo muitas vezes errando, sempre o certo é objetivado. No seu mundo, crianças não são violentadas, desemprego não bate à porta. Seus desafios são alienígenas malvados, mentes criminosas e desastres naturais. Este escoteiro talvez não sobrevivesse em um mundo mais real, mas será que o seu mundo é menos humano por ser irreal? Ele é bom, apenas por ser bom. Ele é honesto e correto – mesmo isto não estando mais na moda.

Em meio aos não tão heróis atuais, Superman é um pilar neste mundo mitológico. O homem do amanhã, vindo da distante era de ouro, é ainda o farol quando se trata de heroísmo. Mesmo mergulhados na dureza da realidade, a bondade continua necessária! Fato: precisamos do Superman!

domingo, março 05, 2006

First day on earth

Na cidade ainda há o eco – eco – dos dias do carnaval. O amor inocente perdido nas areias das praias ainda deixa suas marcas... Toda a alegria parece ter sido evaporada e lavada na quinta-feira! Sem os abadás, os dias voltam ao normal: voltamos à mesma rotina da semana anterior. Existe um silêncio de expectativa no ar. Talvez estejamos esperando o São João, ou uma micareta, ou até o próximo carnaval para sermos alegres novamente.