sábado, agosto 19, 2006

Os meninos perdidos

Sempre me emociono quando vejo algo relacionado à Peter Pan. Um dos grandes momentos, em meu ponto de vista, seria após Peter deixar Wendy de volta a Londres, e naquele momento ela perceber que a sua infância foi-se embora. Acho que talvez seja exatamente isso. Peter é a nossa própria infância. Um garoto de quatorze anos que nunca passará dessa idade – e para que me conhece, sabe da minha preferência por idades pares, ou anos impares, o que não altera nada.

Peter tem um pouco de tudo que gostamos: é criança, divertido, esperto, brincalhão, amoroso, egoísta em seus momentos e pode voar pelos céus. Vive em um mundo de faz-de-conta batizado com o maravilhoso nome de Terra do Nunca! Passa seus dias em aventuras com piratas, índios, sereias e fadas. E eu acredito em fados, sim, acredito!

Com certeza o que mais me emociona é sempre a sua despedida. Seja no primeiro longa animado da Disney, na versão cinematográfica de Spielberg, em sua última incursão em telas grandes como um garoto louro e bonito, ou mesmo com uma história sobre o próprio J. M. Barrie. Sempre a sua despedida é o mais difícil de encarar. Eu nunca gostaria de deixar de ser criança.

Na verdade, essa vontade de ser jovem para sempre se estende a outros personagens ou mitos. Gosto bastante de histórias de Vampiros, mesmo com o seu lado mórbido. Desde meus sete anos de idade, fico impressionado com o filme Highlander, e assim por diante.

Ser eternamente jovem, ou mesmo se manter jovem é algo que espero. Engraçado, mas grande parte dos meus amigos é mais velha do que eu. Recentemente conversando com um deles, ele falou que não gosta dos “adultos” da sua idade. Pode parecer bem infantil e imaturo da minha parte, mas acho isso algo louvável.

Uma das pessoas que mais admiro é minha mãe. Sei que não sou a única pessoa a admirar mãe por esses lados do universo, mas tenho motivos bem claros para isso. Fico impressionado com a sua vitalidade. Ela luta pelos mesmos sonhos que tinha desde a sua adolescência, os mesmos ideais até hoje. Sempre o mesmo sorriso, sempre a mesma vontade. Não sei se continuarei assim, mas espero um dia ser como ela.

Vejo muitos dos seus contemporâneos com vidas totalmente diferentes do que eram. Sim, a vida nem sempre pode ser controlada como queremos – o que não quer dizer que sejamos vítima dela –, mas não é apenas disso que falo. Pessoas que lutaram por algo um dia, que fizeram disso a razão e a coisa mais bonita da sua vida, de repente dizem que foi apenas algo da idade, que eram imaturos, delírios juvenis...

Uma vez, em uma entrevista que fiz a um desenhista de tiras aqui da minha cidade, perguntei se quadrinhos era coisa de criança; ele disse que sim. Geralmente é na infância que se desperta o interesse por certas coisas, mas não quer dizer que isso não fique gravado em algum lugar distante da nossa mente. Quando mais novo, sempre gostei de chiclete; gostava de brincar com meus primos. Quer dizer que apenas por envelhecer, vou deixar essas coisas para trás? Vai dizer que sorvete de baunilha é infantil?

Vejo os “jovens revolucionários” da década de sessenta e muitos deles apenas se sentam nisso tudo. Essa é o mérito da minha mãe, até hoje lutar pelas mesmas coisas. Não do mesmo jeito, o que já seria burrice. Gosto das mesmas coisas que gostava quando era criança, mas não do mesmo jeito. A idade acrescenta, e não substitui.

Minha mãe é para sempre jovem, para sempre criança, assim como eu espero ser um dia, assim como Peter Pan me ensinou a ser. Concordo que um dia seremos adultos, mesmo que o tempo passe de uma maneira diferente para mim, mas ainda adulto, velho, ou que quer que seja, Espero nunca deixar de ser criança. Quero para sempre os meus quatorze, dezesseis anos comigo. Minha coleção de gibi, meus bonecos, meus desenhos e meus filmes de kung fu.

4 comentários:

Anônimo disse...

Se o "ser criança" fosse só a parte bonita e poética à qual você se refere aqui, muitas coisas que um dia eu disse eu nao teria dito. O "ser adulto" e "ser criança" está bem além disso, e nao sei se vc precisa ser mais adulto ou mais criança pra perceber essa diferença. Talvez aí esteja o mistério da coisa toda. Talvez um dia aprendamos.

Anônimo disse...

As vezes quero ser "criança" e outras ser "adulto"...depende do momento...não tenho mais palavras nem ideias p digitar aqui...

Deco Duarte disse...

Conte com mais um leitor.
É isso.

Anônimo disse...

Forever young, i want to be forever young
Do you really want to live forever, forever and ever(...)