sábado, dezembro 06, 2008

M.D.

Percebi que os remédios não faziam mais efeito e as dores não seriam mais passageiras. Seis meses: foi o que disseram – não mais que isso. Levantei à noite e percebi que meu cabelo já não estava mais lá. Tentei correr, mas vi que não conseguiria fazer isso. Decidi partir andando.



Juntei alguns trocados, pouca coisa na bagagem, algumas ligações... Vi propagandas de lançamentos que talvez nunca alcançasse. Dei um abraço forte em alguém, peguei alguns cigarros e fui pela estrada.



Esperei que o mundo ficasse mais frio a cada dia. Tudo estava muito poluído, é verdade, era hora de uma faxina.

quinta-feira, outubro 30, 2008

Sorry, baby...

Cinco tiros na cabeça separam João do seu amor. Ninguém desconfiou da razão, mas Maria estava apenas cansada da mesmice e do cartesianismo da sua rotina.

Cliché

Pouco tempo, poucas idéias...

quarta-feira, outubro 22, 2008

Desequilíbrio

Olhando pela janela do décimo - quinto andar, as pessoas não passavam de formigas lá embaixo. Colocou as pernas pra fora, inclinou o corpo pra frente e manteve os braços esticados para trás. Sentiu o vento no rosto e por alguns instantes pensou que poderia voar. Seu corpo se enche de alegria e os seus pés tocam o nada. Em alguns segundos, seu sorriso torna-se apenas uma mancha no asfalto.

quinta-feira, outubro 09, 2008

sábado, setembro 27, 2008

Os perigos da arte contemporânea

Ouvi rumores tempos atrás, sobre uma pérola da arte contemporânea: um sujeito amarrou o cachorro em uma exposição, e lá o animal ficou até definhar e morrer. Perdoem-me os defensores dos pobres animaizinhos, mas achei sem dúvida nenhuma uma idéia bem divertida; na verdade, ainda achei pouco. Soube que uma turma da escola de belas-artes da Bahia, nos idos da década de setenta, certa feita colocou um gato em uma prensa só para ver como seria o resultado artístico; vemos que a faculdade de artes plásticas da cidade do finado São Salvador mostra-se vanguardista desde sempre...

Pois bem, creio que alguns pensarão algo do tipo “se você acha tão engraçadinho, por que não se amarra até morrer?”, ou “cretino”, ou mesmo “playboy filho da puta”... Vejam bem: não acho que esteja na minha hora ainda – não atentei ao chamado do bom Deus –, e muito menos fui eu o responsável pela morte da criaturinha. Acontece, “amigos”, que alguém falou que se tudo é arte, nada é arte ou alguma besteira que o valha. Basta apenas uma peça idiota e um nomezinho com um conceito bem elaborado e tudo está genial.

Arte conceitual e/ou contemporânea me parece uma rua de mão dupla. Vendo um documentário intitulado “Quem tem medo de arte contemporânea?”, alguns artistas afirmaram que objetivavam desmitificar a arte enquanto elitista e intocável, por isso estas novas linguagens. Por isso os objetos do cotidiano são trazidos à tona com grande freqüência; uma idéia já usada por um tal de Duchamp e reutilizada pelo popular Andy warhol.

A ruptura do citado artista francês foi necessária, e também um grande marco de libertação para a história da arte. Seus filhos diretos, representantes da Pop Art americana entenderam perfeitamente a mensagem ao seguir com uma arte baseada no banal e sem grandes questionamentos existenciais: se foi feito por um artista...

A grande questão neste caso, diferente do ocorrido na década de cinqüenta, é que não obrigatoriamente ao trazer objetos comuns à arte, estamos aproximando público e artista. A bem da verdade, esta equação parece-me inversamente proporcional. Para uma tela geometrizada e monocromática, temos duas páginas e meia de conceito, e a cada mil palavras, menos que uma imagem.

É engano pensar que seria preciso nivelar por baixo para ter um grande alcance e é extremamente perigoso achar que o cidadão brasileiro mediano não está apto a este desafio. O resultado é que desta maneira, a arte fica restrita ao artista; uma panela fechada e excludente, elitista e intocável... Claro que as obras não precisam de bulas para serem entendidas. O objeto é orgânico e sentimental, não um amontoado de regras; porém, antes de tudo, o artista plástico é um comunicador visual e sensorial. Se a mensagem não é captada, se ele não consegue guiar a percepção do seu público, não se faz entender, sabemos onde – ou de quem – é o problema!

terça-feira, setembro 16, 2008

Adeus Amor

Já tem algum tempo que eu venho ensaiando escrever alguma coisa. Sempre tenho várias idéias, mas ultimamente... Não sei se é falta de tempo, preguiça, falta de prioridades... Faço aniversário de hiato literário – se é que pode-se chamar isto de literatura.

Tinha planos de escrever alguma coisa séria: uma menina foi estuprada na UFBA (universidade Federal da Bahia), maravilhosas campanhas políticas, chacinas aqui e acolá, coisas pequenas, coisas grandes. Acontece que tudo mudou. Escutei Waldick Soriano e tudo mudou.

Sempre gostei de canções tristes, sofridas. Já ouvi muito Waldick e principalmente Nelson Gonçalves, sempre acompanhados de alguns goles de cerveja e uma conversa nostálgica com meus tios. Esses dias, simplesmente tive uma vontade muito grande de escutá-lo. Estou pensando em Waldick Soriano como um primeiro passo; quero conhecer outros cantores desta mesma época e com o mesmo clima.

Não acho engraçadinho, realmente gosto.

Já estava pronto pra dormir, quando me deu uma certa vontade de externar isso, sem o menor propósito.

Gosto de músicas velhas.

Gosto de músicas sofridas.

Gosto do amor dos e nos bordeis do passado.

Concordo com Patrícia Pillar.

Gosto de Waldick Soriano!

quarta-feira, agosto 20, 2008

sexta-feira, agosto 08, 2008

A dialética do Jeans

Recentemente estava em uma mesa de bar – em um período pré-lei seca – escutando como quem não quer nada, a conversa dos outros. Estava só e era uma noite de terça-feira. Havia em uma mesa próxima, dois jovens casais discutindo sobre um dos temas mais propícios para tal ambiente: relacionamentos e conselhos amorosos. A propriedade em falar sobre a vida alheia é um dom nato para os “botequeiros” de plantão. Só uma conversa rápida, sem compromisso e sem ferir ninguém...


Estiquei-me um pouco mais na cadeira procurando uma forma de ouvir mais atentamente os conselhos que estava sendo dados. Não eram exatamente conselhos, mas sim filosofias próprias sobre a vida a dois. Um dos rapazes começou sua sentença:


– Existe um exemplo que sempre costumo usar neste tipo de situação...


Imagine que você é uma mulher – caso você já não seja uma – e está procurando uma roupa para ir à festa do final de semana. De repente, passeando pelo Shopping, você se depara com a loja da (escolha o nome que mais lhe convir). Decide então comprar uma calça. Olha todas, passa um bom tempo entre o experimentar, pedir opiniões, perceber o corte, dar uma olhadela no preço... E por fim, com as parcelas devidamente calculadas, leva-a para casa. A calça está linda e o seu grande sonho de consumo foi enfim consumado. Acontece que a festa não é no mesmo dia da compra, lembre-se que ainda estamos na terça-feira.


A semana transcorre dentro da normalidade esperada. Chega o grande dia. Toda ansiosa, corre ao guarda-roupa e procura pela calça – aquela. Ao vesti-la novamente, algo de inédito acontece: a calça já não é mais a mesma de antes, ou seria você que já não é mais a mesma pessoa? Todas aquelas sensações de prazer propiciadas pela peça de roupa na terça-feira não estão mais presentes no sábado. Você veste de novo e de novo, mas a calça já não te agrada tanto quanto antes.


Neste momento, o rapaz interrompe sua narrativa para uma pausa dramática. Encara todos nos olhos antes de continuar, enquanto eu estou quase caindo da minha cadeira para melhor ouvir o final da explicação.


– Sabem o que é isso? Esse é o conflito de você com você mesma! – a grande revelação – Se para conseguir entender e lidar com você mesma já dá muito trabalho, imagine conviver com outra pessoa. Pois é, essa é a vida, sem tirar nem colocar.


Sento-me novamente em uma posição confortável para pensar melhor sobre a teoria. Faz todo o sentido do mundo: duas pessoas não cabem em uma mesma calça – não em uma calça de tamanho normal. Penso que realmente essa é a vida e volta e meia ela tenta me acordar com lições que mais parecem tapas na cara.


segunda-feira, agosto 04, 2008

quinta-feira, março 27, 2008

Agora e na hora

“Eu te amo” foi a primeira frase que Oswaldo proferiu após um minuto e meio de sexo. Afagou delicadamente os cabelos da puta que acabara de conhecer e sussurrou em seu ouvido. Gozou em pouco mais de dois minutos. Ela levantou-se procurando um cigarro em suas roupas no chão e foi até a janela sem olhar para trás.

Oswaldo foi deixado na cama, sentado na beira, com o corpo jogado para trás apoiado pelos cotovelos. Suas calças ainda estavam em seus tornozelos e a camisa amarrotada. Olhou para o seu pênis ainda embalado pelo preservativo. A sua frente, a silhueta esguia da prostituta.

Oswaldo vestiu-se e deixou o dinheiro no criado-mudo enquanto ela se preparava para receber mais outro cliente naquela noite de maio...

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Road Trip, Bad Trip

Em uma bela quarta-feira, sem o menor propósito do dia, Mateus acordou tarde. Rolou ainda alguns minutos na cama antes de se levantar. O chuveiro havia queimado e foi trazido do sono por um banho frio. Enxugou os cabelos curtos em sua toalha velha e saiu para a rua. Andou alguns quarteirões até parar em uma esquina e começar a pedir carona.

Depois de duas horas parado, passou por ele uma Kombi vinda de Porto Alegre. Toda decorada com motivos indianos e cores chamativas, saiu de dentro dela um exemplar vivo de que o tempo pode ser estático para algumas pessoas; algo como uma fotografia, onde o mundo continua a correr, enquanto naquela imagem... Mateus pensou que não seria uma boa metáfora e não continuou com o pensamento. Apenas entrou na Kombi.

Miguel viajava pela América do Sul com sua família. Sua esposa, Maria, trazia uma criança recém nascida em seus braços, e com o seio descoberto, amamentava. Mateus sorriu, e toda a sua gentileza foi resumida neste gesto. Miguel contou viagens por estradas Uruguaias e os sabores dos fumos distantes. Pregava a liberdade, recusava-se a se alimentar de outros animais...

Mateus apenas olhou o asfalto e ouviu. Lembrou das estórias que sua avó contava quando era mais moço e pensou como tudo que passou parece ser bem mais fácil e melhor do se achava na época. Pensou em como aquela conversa era chata e como tudo aquilo lhe parecia uma grande besteira.

Depois de uns trezentos metros pediu para parar. Ali já estava bom, ele disse. Já tivera aventuras demais por um dia. Tinha que voltar logo para casa, antes que perdesse o ponto do emprego.

sexta-feira, janeiro 04, 2008

E foi-se o Reveillon

Estou cansado do respeito à terceira idade. Estou cansado do respeito aos mais velhos. Começo o ano dizendo que cansei logo nos primeiros dias. Cansei da opinião alheia e do respeito à mesma. Cansei do respeito às minorias menos favorecidas ou às maiorias lesadas por séculos de história. Cansei do discurso da reparação.

Não tenho pesar em minha escrita; tenho apatia. Sinto um tédio incomensurável ante tudo isto. Estou cansado das lições de moral da vida, do conhecimento defasado e hierárquico dos cabelos brancos. Ouvi calado, guardei todo o sentimento dentro de mim e retribui com um silêncio. Um silêncio que gritava e me fazia tremer o corpo.

Cansei de tentar enxergar pelo olhar do outro. Cansei de entender as besteiras do mundo adulto. Não tenho nenhum sentimento pelo finado cordeiro de deus. O pecado continua entranhado em cada fruto do planeta. Estou cansado do perdão, e não o quero.

Não sinto pena das crianças que morrem de fome em algum país da África. Não me solidarizo com as vítimas da guerra ou da Tsuname. Estou cansado de todo esse altruísmo que parece ser inerente à todas as pessoas. Não acredito nisso. Acho muito fácil e cômodo se sentir tocado pelos eventos que não nos tangem diretamente. No meu vocabulário, isso tem outro nome.

Cansei da piedade das pessoas. Cansei de gente bonita. Cansei dos meninos e meninas do roque. Cansei da família e dos bons costumes. Não acredito na anarquia ou em qualquer outro tipo de governo. Não acredito no niilismo. Não gosto dos estudantes universitários de esquerda com os seus discursos interrompendo aulas. Não gosto dos estudantes dedicados à vida política, com barba sempre por fazer, roupas de trinta anos atrás e desempregados. Eles estão inclusos no parágrafo anterior...

Cansei da solidariedade, cansei da piedade e da falta de amor próprio. Cansei da banalização dos sentimentos. Não consigo chorar – mesmo que eu tente – quando escuto “Pai” de Fábio Junior. Acho tão ridículo quanto Raul ou Renato.

Cansei do bom gosto, das críticas positivas, da sobriedade. Cansei de me sentir tão cansado. Não queria acordar achando nada diferente disso. Não quero ser uma pessoa do sim. Quero cheirar fumaça de óleo disel. Me embriagar até que alguém me esqueça.