sexta-feira, agosto 08, 2008

A dialética do Jeans

Recentemente estava em uma mesa de bar – em um período pré-lei seca – escutando como quem não quer nada, a conversa dos outros. Estava só e era uma noite de terça-feira. Havia em uma mesa próxima, dois jovens casais discutindo sobre um dos temas mais propícios para tal ambiente: relacionamentos e conselhos amorosos. A propriedade em falar sobre a vida alheia é um dom nato para os “botequeiros” de plantão. Só uma conversa rápida, sem compromisso e sem ferir ninguém...


Estiquei-me um pouco mais na cadeira procurando uma forma de ouvir mais atentamente os conselhos que estava sendo dados. Não eram exatamente conselhos, mas sim filosofias próprias sobre a vida a dois. Um dos rapazes começou sua sentença:


– Existe um exemplo que sempre costumo usar neste tipo de situação...


Imagine que você é uma mulher – caso você já não seja uma – e está procurando uma roupa para ir à festa do final de semana. De repente, passeando pelo Shopping, você se depara com a loja da (escolha o nome que mais lhe convir). Decide então comprar uma calça. Olha todas, passa um bom tempo entre o experimentar, pedir opiniões, perceber o corte, dar uma olhadela no preço... E por fim, com as parcelas devidamente calculadas, leva-a para casa. A calça está linda e o seu grande sonho de consumo foi enfim consumado. Acontece que a festa não é no mesmo dia da compra, lembre-se que ainda estamos na terça-feira.


A semana transcorre dentro da normalidade esperada. Chega o grande dia. Toda ansiosa, corre ao guarda-roupa e procura pela calça – aquela. Ao vesti-la novamente, algo de inédito acontece: a calça já não é mais a mesma de antes, ou seria você que já não é mais a mesma pessoa? Todas aquelas sensações de prazer propiciadas pela peça de roupa na terça-feira não estão mais presentes no sábado. Você veste de novo e de novo, mas a calça já não te agrada tanto quanto antes.


Neste momento, o rapaz interrompe sua narrativa para uma pausa dramática. Encara todos nos olhos antes de continuar, enquanto eu estou quase caindo da minha cadeira para melhor ouvir o final da explicação.


– Sabem o que é isso? Esse é o conflito de você com você mesma! – a grande revelação – Se para conseguir entender e lidar com você mesma já dá muito trabalho, imagine conviver com outra pessoa. Pois é, essa é a vida, sem tirar nem colocar.


Sento-me novamente em uma posição confortável para pensar melhor sobre a teoria. Faz todo o sentido do mundo: duas pessoas não cabem em uma mesma calça – não em uma calça de tamanho normal. Penso que realmente essa é a vida e volta e meia ela tenta me acordar com lições que mais parecem tapas na cara.


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