domingo, fevereiro 25, 2007

João e Maria

Madalena desceu a ladeira. Disse que para o meu barracão não queria mais voltar. Saiu com uma trouxa de roupas na cabeça, indo para a casa dos pais. Mesmo depois da quarta-feira de cinzas, o café ainda não estava pronto. Fiquei sentado na sala esperando a porta abrir. Madalena realmente tinha ido.

Fui procurar por suas amigas, mas nenhuma tinha notícias, nos bares ela também não estava, nunca fora mulher disto. Contei algumas moedas no bolso e fui ligar, mas o telefone não atendia. A cidade estava se erguendo do carnaval, e o cheiro quente do suor no asfalto ainda estava lá.

Voltei para casa, e esta continuava vazia. Deitado no colchão penso em Madalena. Talvez o morro fosse pouco para ela, talvez a vontade fosse pouca... Ela não era Amélia, e descobriu que a fome era feia. Queria acordar em um poema e encontra-la nas rimas, nos versos. Queria ver toda a beleza e lirismo da tristeza e do sofrimento. Sofrimento só era bonito nas palavras, não no peito.

De repente, tudo fazia menos sentido. Não queria mais tocar o meu violão. Comi pouco e esperei a quinta amanhecer. Seu cheiro estava em todo lugar e ficar naquela mesma cama que antes era nossa não valia mais a pena. Pensei em correr ao seu encontro, mas tinha sido proibido. Não poderia ficar com alguém que não quisesse o mesmo.

Voltei para a minha rotina. Acreditei que ela voltaria. Pensei nisso. Acreditei que o amor passaria assim como o samba, mas sabia que estava apenas me enganando.

Nenhum comentário: