segunda-feira, dezembro 25, 2006

Três pontos

Conheci uma figura bastante singular esta semana.

Estava voltando para casa quando resolvi parar para comer alguma coisa. Sentei em uma lanchonete para comprar um quibe quando de repente:

– Quer uma cerveja? É que veio muita gelada e está empedrando. Se não tomar logo, o gás vai escapar e eu vou perder o meu dinheiro.

Na verdade, não foi tão “rebuscado” dessa maneira, porém bem elaborado. Aceitei. Bebi uma cerveja com o novo amigo. A cerveja aproxima os homens e dessa vez não foi diferente. Conversamos e descobri um pouco mais sobre as coisas. Ele tinha vinte e seis anos e três filhos. Era negro e estava desempregado. Chorou – literalmente – suas desgraças pra mim por quase duas horas.

Essas coisas me atingem de uma maneira estranha. Nunca fui muito de me importar com sofrimento alheio, mas aquilo de alguma maneira me sensibilizou demais. Acho que o fato de uma pessoa que nunca tinha visto na vida começar a falar e chorar na minha frente mexeu um pouco comigo. Pensei bastante e acabei lembrando de uma velha amiga de faculdade. Ela uma vez – depois de várias discussões sobre teoria contra realidade – me falou que existem verdades que não se encontram no plano real das idéias platônicas. Dou o braço a torcer; estava certa. Aquilo foi uma aula que jamais tive.

Desde que entrei na faculdade, aprendo muito mais com meus colegas e pessoas de fora, mas ligadas à área, do que com meus professores. Toco muito melhor hoje em dia depois de quase dois anos de bandinha de rock do que em minhas distantes aulas de violão. Ela estava certa, mas não completamente!

Essa não foi a única história importante da semana. Nosso neto de Senador também levou uma facada. Isso parece bastante agressivo, mas... A agressora falou que foi devido ao aumento de noventa e um por cento dos salários decido por eles mesmos. Fico imaginando quanto seria o meu salário se eu pudesse decidir quanto ganhar...

E repente penso que algo está prestes a mudar. Esse foi um ano estranho. Uma senhora tocou fogo em outra pois não recebeu o INSS, uma outra deu uma facada em um deputado e mais outras coisas. Ainda é pouco, eu sei, mas bastante diferente de tudo antes. Parece que os expectadores estão querendo interagir com a peça.

Nunca fui partidário a nada, nenhum partido. Tão pouco perdi meu tempo com besteiras sobre voto nulo. A vida parece ser um grande clichê, ainda maior do que esta frase. Não sei a que conclusão chegar, mas marquei de tomar mais cerveja com o rapaz do primeiro parágrafo!

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Apenas algumas palavras

Nunca pensei em ser artista plástico. Confesso que até via este ofício com um pouco de despeito. Na verdade, acho que ainda vejo desta maneira, mas menos do que antes. Meu primeiro contato com artes visuais veio através das histórias em quadrinhos. Dessa maneira comecei copiando desenhos. Nunca tive muita dúvida do que queria fazer na vida: sempre gostei de desenhar e hoje acho algo vital, quase como respirar.

Pouco me agrada arte contemporânea e principalmente, não consigo ter nenhum apreço por arte conceitual. Acho algo chato e inútil; deixa o lado artesão do artista para trás. Nunca vi uma instalação que me agradasse e acho que quase todas me remetem a lixo. Sempre achei essa estória de que o artista é um expoente e um sensível da sociedade como uma grande picaretagem. Recentemente vi alguém quebrando uma escultura até bem bonita com o argumento de que aquilo era uma representação de como a sociedade era injusta e de como ele se sentia frustrado com tudo aquilo, sobre suas repressões sexuais e blá, blá, blá. Não tenho a menor paciência para isso. Acho simplesmente bobo.

Esse é apenas um dos exemplos. Discordo completamente de que basta uma idéia na cabeça e uma câmera em mãos para fazer um filme – talvez por isso os filmes de Glauber Rocha sejam tão legais... Também não acho que técnica deva ser a tônica de qualquer obra, mas acho fundamental em seu devido grau. Não gosto de Duchamp e nenhum dos seus “filhos”. Quando era pequeno fui em uma bienal de artes em São Paulo e fiquei muito frustrado. Acho que foi quando eu comecei a pensar que não queria ser artista, apenas desenhista.

Confesso que já mudei um pouco minha maneira de ver algumas coisas desde que entrei na faculdade. Acho que muito do que eu aprendo é importante. Com certeza sei muito mais do que antes, mas ainda continuo achando arte conceitual uma perda de tempo. Talvez o errado seja eu. Parei no tempo! Quase todos os movimentos que gosto, já foram encerrados a mais de cem anos.

Gosto da antiguidade clássica, gosto bastante do movimento gótico e suas figuras alongadas. Acho que a coisa começa a ficar legal com a chegada do renascimento. DaVinci era um grande sujeito e um bom pintor. Um pouco monocromático... Sou um grande fã dele, mas acho que isso quase todo mundo é. Talvez ele seja uma das grandes unanimidades da arte. Prefiro Michelangelo!

Durante a renascença, movimento não era algo muito comum nas obras. Existem algumas tentativas como em Botticelli, mas pouca coisa. Apesar de toda a sua indiscutível genialidade, Davinci acabou sendo um grande nome do renascimento, enquanto Michelangelo foi o pai do movimento a seguir, o barroco.

O grande momento chega com o romantismo. Acho essa uma das melhores épocas de toda a humanidade. Ótimos escritores, excelente pintores e compositores. Depois disso, houveram poucos que me agradaram. Munch é um exemplo.

Continuo lendo histórias em quadrinhos e sou muito feliz com elas. Gosto do experimentalismo de alguns dos seus desenhistas, a maior parte desses formados em artes plásticas... Aprendo um pouco mais a cada dia. Talvez eu mude tudo isso em uma semana!