quinta-feira, outubro 04, 2007

Crackolândia

Com apenas um empurrão, tudo acabou para sempre. Um sopro foi o suficiente para acabar com a eternidade dos dois. Todos os alicerces do castelo ruíram. Sentaram com os joelhos abraçados contra o peito e ficaram em silêncio vendo tudo ir embora com a tempestade. Ela levantou e saiu correndo atrás das suas loucuras que espalhavam-se pela cidade. Correu cada vez mais lento e sem direção até cair perto do Elevador Lacerda; rolou pela Cidade Baixa e morreu em frente à Conceição da Praia.

Ele tentou segui-la, mas não conseguiu. A cada queda dela, ele limpava as suas feridas e a confortava com palavras. A cada nova escoriação, ela retribuía com uma outra nele. Ao fim ele já estava machucado demais para continuar correndo. Caiu de joelhos e a viu cair no cartão postal. Não teve reação – estava cansado demais para sentir qualquer coisa –, apenas uma tristeza gigante que já era o seu estado natural.

Aos poucos, levantou e buscou achar outros. Procurou por ombros para amparar as suas lágrimas. Percebeu que todos tinham ficado no princípio da jornada. Tentou voltar lentamente ao ponto de partida, mas parecia que o regresso era bem mais penoso... Não encontrou mais seus parceiros, filhos, amigos... Percebeu que estava só.

Percebeu que a corrida tinha sido demais para ele e para todos os que o assistiram correr. Percebeu que as feridas tinham sido muito mais profundas do que ele mesmo esperava. Percebeu que já não era mais tão jovem quanto o que pensava que fosse. Percebeu que na queda dela, ele havia morrido também.