domingo, outubro 22, 2006

First breath after coma

Esperei demais e a tristeza passou. A dor ficou velha e nada mais faz tanto sentido. Eu tento, bem que tento. Acho que não pode ser deixado no passado – ser registrado em um eterno presente. A abracei sem forças, pois nunca achei que precisaria dar um abraço como aqueles. Esqueci disso: todos partem! Já deveria saber disso – eu já parti, e partido, aqui fiquei. Fiquei triste com mais uma despedida.

terça-feira, outubro 03, 2006

Lições e morais

Era bonita e cheia de sonhos na sacola. Fez faculdade de comunicação e após formar, foi trabalhar em um supermercado como gerente de qualquer coisa que não me recordo exatamente o que era... Lá ficou por três longos anos: cansou! Decidiu que queria mudar de vida e tentar tudo desde o começo novamente – voltar à primeira frase. Mudou-se para uma grande capital e lá, com a experiência que tinha, foi trabalhar em um supermercado como gerente de qualquer coisa que não me recordo exatamente o que era...

domingo, outubro 01, 2006

Moto contínuo

Chegou em casa depois de passar muito tempo esbravejando no trânsito das seis. Brigou no trabalho, e até o dinheiro era insuficiente para uma cerveja. Subiu rápido as escadas e entrou ainda suado no apartamento. Foi à geladeira procurando algo pra beber ou comer: foi uma busca infrutífera...

Sentou no velho sofá – abaixo de uma foto desbotada na parede – da sala e ligou a televisão. A luz azul contrastou com a pintura cinza. Foi atacado por todas as informações do noticiário. Cansado, procurou uma revista próxima à mesa e começou a ler. Riu sozinho...

Depois do momento de ócio, decidiu descer um pouco pra jogar seu tempo fora com a contemplação da noite. Não conseguia ver o céu, a lua ou as estrelas: era tudo de um cinza único, uma cortina de fumaça escondendo qualquer esperança que houvesse. Entendeu que ainda assim existia beleza e poesia naquela feiúra lúgubre. Acendeu um cigarro para colaborar com o teto gasoso. Deu tragadas fortes até se acostumar com a quentura nos pulmões.

Andou com o olhar perdido em todo tipo de fumaça que vinha da cidade. Fez pequenos desenhos no ar com suas baforadas... Seus pensamentos estavam perdidos em algum espaço. Pensou em voltar para casa, mas não sabia exatamente onde era este lugar. Tinha uma sensação estranha de nunca ter estado em casa, mas por algum motivo, sabia que parado, ali no meio das praças e ruas, estava muito mais próximo do que confinado em um apartamento. Parou para olhar a beleza do asfalto e o toque do concreto. Sentiu todo o poder da natureza humana sobrepujando a força de Deus. Era homem, e disso teve certeza.

– Estava sumido, nunca mais tinha te visto...

– Engraçado, vejo-me todos os dias – riu ligeiramente com o canto da boca.

– Nunca mais me procurou...

– Acho que o mesmo serve também a você. Cansei um pouco de tudo isso. Se eu não te procuro, tu não me procuras, é isso? Mesmo que queiras, não me procuras? Tens tanto medo assim?

– Você está mudado, isso sim!

– É o mínimo que se espera... Não quero mais ouvir reclamações deste tipo; como já disse: cansei! De repente as pessoas se repetem e isso perde um pouco da graça. Não consigo mais rir da mesma piada. Talvez seja apenas isso, ou tudo isso... O problema talvez seja você que não mude, e já não gosto mais que continue sendo “você mesmo”!

– Não é isso... Esqueça, você não entendeu...

– Você está certo, eu realmente não entendo.

Novamente sozinho sob seu céu monocromático. Riu da partida do outro, e tudo o que falara era verdade. Deus o livrasse; ele era homem, ele criou Deus! Já não era mais nada, não tinha mais um criador. Perguntou-se de onde teria vindo aquele céu, e olhando novamente para a cidade e suas fumaças, teve sua resposta. Caçou nos bolsos um cigarro e descobriu que era o último; sabia que teria problemas para dormir.

Olhou o relógio e viu como era tarde. Tinha que voltar para o apartamento – nunca voltaria à casa – e continuar o que tinha deixado por fazer. Sentar-se novamente no mesmo sofá e esperar o fim da noite e suas luzes para continuar a mesma rotina que tanto maldizia, mas a qual não saberia viver sem.

Correu os bolsos novamente... Talvez desse para terminar o dia com uma cerveja. Quem sabe até pintasse o céu com mais um pouco de cinza.